segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Sobre a loucura

Eu sempre achei que a loucura fosse apenas uma maneira pouco ortodoxa de interpretar as coisas do mundo. Pra mim, um louco era somente alguém que não entendia as coisas do mesmo ponto de vista que a maioria. (Ressalto aqui que estou falando de distúrbios psicológicos, e não psiquiátricos).
Ora, eu mesmo fui chamado de louco a vida inteira por esse motivo. Quando criança, não gostava de fazer muitas coisas que os outros pequenos faziam e não me divertia com as atividades dos meus familiares, e nenhum dos meus parentes ou amiguinhos hesitavam em exclamar "Esse menino é todo doido!" quando eu alguma vez negava ir à praia ou jogar bola na rua.
Quando adolesci, por vários motivos comecei a questionar tudo ao meu redor. Foram anos chegando a conclusões perturbadoras acerca de vários paradigmas sociais. E não me lembro, nessa época, de nenhuma vez em que as compartilhei e vi uma reação diferente do escárnio, desdém, repulsa ou um risinho ridículo (vale lembrar que isso acontece até hoje). As pessoas repetiam com tanta frequência e veemência que eu era perturbado, que eu simplesmente passei a aceitar isso. Não no sentido ruim, claro. Compreendi que minha loucura não passava de uma ruptura dos padrões, que as pessoas taxavam de loucura por serem  incapazes de levar a sério suas consequências, e nunca me envergonhei ou lutei contra ela.
Tipo, como disse Caio Fernando Abreu: "Loucura, eu penso, é sempre um extremo de lucidez. Um limite insuportável."
Mas hoje creio que começo a arranhar o verdadeiro significado da insanidade. Pois embora tenha certeza de que minha cabeça seguia padrões muito estranhos, ela ainda seguia padrões. Mas uma mente perturbada não apenas funciona de maneira diferente; ela chega a não funcionar bem sob certo aspecto. Parte dela se sente tão torturada por sofrimentos, que deixa de operar suas funções corretamente. Certos raciocínios não conseguem se completar, se perdendo no percurso, os pensamentos ficam caóticos e você não consegue pensar em algumas coisas com a clareza que queria. Uma névoa turva sua cabeça permanentemente e você não consegue mais julgar certos fatos com a certeza de antes. A natureza exata do problema depende de como a mente de cada um é posta em prova.
Hoje sei que estou me aprofundando em um outro nível de insanidade. Mas o que mais me perturba é aquela velha pergunta: "um louco sabe que é louco?"

Um comentário:

  1. "Mas quem tem coragem de ouvir, amanhecer o pensamento"?
    Os "loucos" sempre foram discriminados na história da humanidade. Alguns com razão, outros não e muito tempo foi perdido com isso.
    Quando um gene novo surge em uma população, é grande a chance dele sumir devido à sua baixa frequência... talvez com as idéias seja a mesma coisa. A gente tem que tentar compreender que pra humanidade é difícil enxergar coisas novas (é claro que nada justifica discriminação, humilhação, censura, etc), mas infelizmente, muitas pessoas são torturadas por isso.
    Acho que está faltando mais compreensão e tolerância dos dois lados: o dos "loucos" enrustidos e o dos "loucos" apontados.

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